11/05/2007

1984 – A Máquina

O título desta 3a parte da história dos 5 títulos do 49ers não é despropositado. O time de 1984 é descrito como uma máquina. Isso porque aquela equipe atuava como um rolo compressor ao mesmo tempo em que era desprovida de carisma. Tirando jogadores como Joe Monttana e Ronnie Lott, era difícil ver algum rosto digno de aparecer em um comercial. E, no entanto, foi o time com o melhor retrospecto da história do 9ers, 15-1, possuindo o recorde de vitórias em uma temporada da NFL. Porém, a despeito dos números, a trajetória do 49ers de 1984 teve suas turbulências.

Pra começo de conversa, estamos falando de um cenário completamente diferente do de 81. O 49ers é agora uma força estabelecida. As expectativas em torno do time são enormes e, como disse o LB Keena Turner: “vencer era esperado. Não apenas vencer, mas vencer bem”. E, se o 9ers começou a temporada vencendo, não foi vencendo bem.

O time vinha de uma traumática derrota na final da NFC de 83 para o Redskins, num jogo que foi decidido por uma marcação controversa da arbitragem. O time ficou profundamente abalado com aquilo e talvez por isso o começo não tenha sido muito inspirador.

Na primeira semana, o time enfrentou o Detroit Lions fora de casa. E o jogo foi complicado, com os times se alternando na liderança do placar. Então, com o jogo empatado e faltando 4 segundos para o fim, Ray Wersching chutou o field goal que deu a vitória ao Niners. O jogo seguinte foi um Monday Night contra o Redskins, onde o San Francisco vingou-se da derrota do ano anterior, batendo o time de Washington por 37-31.

Duas vitórias apertadas e várias lesões na defesa. Além disso, o time sofreu com hold outs de 2 de seus principais jogadores, o S Ronnie Lott e o DE Fred Dean (os 2 mencionados no post da temporada de 81). A briga com Lott não demorou muito para ser resolvida e ele logo estava jogando (apesar de ter ficado de fora 4 jogos por lesão), mas Dean só voltou ao time na 11a semana. O ataque também sofreu, com Joe Montana tendo de ser substituído no jogo contra o Saints e seu reserva Matt Cavenaugh se desdobrando para levar o 9ers à mais uma vitória, por 30-20. O próprio Cavenaugh foi titular no jogo seguinte contra o Eagles e passou para 3TDs, na vitória por 21-9.

Durante toda a temporada, a defesa do 49ers foi sensacional, ainda que a imprensa não prestasse muita atenção nela, sobretudo devido a já mencionada falta de carisma de seus jogadores. Toda secundária do time foi selecionada para o probowl, a saber: SS Carlton Williamson, CB Eric Wright, FS Ronnie Lott e CB Dwight Hicks, todos mencionados no post de 81. Nem assim a defesa recebeu o crédito que merecia. Talvez por essa falta de personalidade, todos ficaram surpresos quando o time resolveu gravar um disco, com vários jogadores cantando. Esse disco foi lançado na semana do jogo contra o Steelers, o que deixou Walsh furioso, talvez já prevendo o que iria acontecer.
A capa do infame disco lançado pelos jogadores do 49ers em 1984.

Contra Pittsburgh (que tinha o retrospecto de 3-3), o 49ers chegou ao 4o quarto com uma vantagem de 17-10, mesmo não jogando bem. Então, numa 4a descida para o Steelers, Eric Wright bloqueou um passe na endzone, aparentemente de maneira limpa. Mas um dos juízes deu pass-interference, o que permitiu ao Steelers marcar um TD e chutar o field goal da vitória momentos mais tarde. Foi a única derrota do Niners na temporada, mas uma bem dolorosa.

Para piorar ainda mais as coisas, a vitória seguinte, contra o Houston Oilers do QB Warren Moon, foi apertada e só veio faltando 9 minutos para o fim, num passe de 50 jardas de Joe Montana para Dwight Clark, fechando o jogo em 34-21. No vestiário depois da partida, o dono do time, Eddie D., interrompeu Bill Walsh e deu uma sonora bronca em todos os jogadores. Esse era o 9ers da década de 80: um time para o qual não bastava apenas vencer. Evidentemente, essa postura criava um grande estresse. Um episódio que ficou famoso foi quando, durante a tradicional sessão de cinema na noite antes do jogo, o media director Jerry Walker escolheu o filme Dressed to Kill. O filme continha cenas que muitos consideravam inapropriadas, então Walsh demitiu Walker, recontratando-o no dia seguinte.

Porém, mesmo com tudo isso, o clima entre os jogadores era ótimo, e muitos dos que atuaram nas 4 temporadas vitoriosas da década de 80, como Montana e Lott, consideram aquela equipe com a que tinha a melhor química. E isso ficou provado na segunda metade da temporada.

O time se acertou e esmagou os adversários. A diferença de pontos nas vitórias do San Francisco foi de quase 23 pontos! Assim o time conseguiu o recorde de vitórias em uma temporada regular da NFL, com 15.

Na final de divisão, o 49ers bateu o Giants por 21-10, com grande atuação da defesa, que conseguiu 6 sacks. O jogo seguinte, a final da NFC seria contra o Bears, que possuía a defesa mais badalada da NFL, usando um sistema novo na época, chamado de 46 defense. Pois a defesa que apareceu foi novamente a de San Francisco, que conseguiu um shutout, vencendo por 23-0. Era hora de encontrar o Dolphins, de um tal Dan Marino.


Super Bowl XIX - o confronto de QBs


O Super Bowl XIX, disputado no Stanford Stadium na Califórnia, ficou marcado com o duelo entre os dois QBs, Joe Montana e Dan Marino.

Dan Marino. O QB do Dolphins era o queridinho da mídia em 84.

Marino estava em seu segundo ano na NFL e havia deixado todos de boca aberta naquela temporada. Passou para mais de 5000 jardas (primeiro QB a conseguir esse feito), batendo o recorde de TDs numa temporada, com 48 (recorde esse que só foi batido por Peyton Manning 20 anos mais tarde). A mídia logo se apaixonou pelo QB de Miami.

Nas 2 semanas que antecederam o jogo, todos os jornais exaltavam Marino e debochavam de Montana, que era chamado com todas as letras por diversos colunistas de fracote e até de efeminado! O contraste entre os 2 era evidente. De fato, a única semelhança era o fato de ambos teram saído da Pensilvânia. Marino era o Qb ideal fisicamente. Tinha 1,93m, pesava 99 kg e tinha um canhão no lugar do braço. Montana tinha 1,88, pesava 91 kg, sendo que parecia muito mais baixo e leve, devido ao seu físico franzino, sendo apelidado pelos companheiros de bird legs. Além disso, tinha um braço mediano. Com tudo isso, a imprensa havia decretado: Montana acabou. Dan Marino é o futuro da NFL.

Isso era tudo que Walsh queria. O treinador do 49ers, como sempre, usou a mídia para motivar seus jogadores. Minutos antes do jogo, Walsh deitou no chão do vestiário e, fingindo dormir, começou a falar: "Ó meu Deus, o Miami! Como vamos pará-los? Não temos a menor chance! E a defesa deles, meu Deus? Como vamos conseguir uma 1a descida, ou mesmo 1 jarda". Em seguida virou-se para o CB Dwight Hicks e disse: "não dá vontade de quebrar essa parede e ir acabar com a raça deles?"

O Jogo

E no Super Bowl de Marino, foi Montana quem desferiu o primeiro golpe, com um passe para TD para o RB Carl Monroe. Marino retaliou e o Miami retomou a liderança, terminando o 1o quarto vencendo por 10 a 7. Mas daquele ponto em diante, o Super Bowl XIX foi de Joe Montana.

Durante o 2o quarto, Montana comandou 3 campanhas de TD seguidas, anotando 1 passe para TD e uma corrida para outro. Não havia mais dúvidas sobre quem era o melhor QB da NFL.

Wendell Tyler (26) e Roger Craig (33) formavam o versátil backfield do 49ers. Craig marcou 3 TDs no Super Bowl XIX.

Para piorar ainda mais as coisas para Marino, a defesa do 49ers começou a fazer no segundo tempo aquilo que não tinha conseguido fazer no primeiro: pressionar o QB. Marino havia sido o QB menos sackado de toda a temporada. Ele simplesmente não estava acostumado com aquele tipo de pressão. E, ao contrário de Montana, que sempre mantinha a cabeça fria mesmo nos piores momentos (daí seu famoso apelido, Joecool), Marino sempre foi "esquentado", e suas 2 interceptações eram questão de tempo. E elas vieram com os DBs Wright e Williamson. Não tinha mais jeito. Montana ainda teve tempo de desferir o golpe de misericórdia, com um passe de TD para Roger Craig. O Niners venceu por 38-16.

Joe Montana, o MVP do Super Bowl XIX.

Montana terminou o jogo com 24 passes completos de 35 tentados, ganhando 331 jardas e marcando 3 TDs. Ele ainda correu 5 vezes para 59 jardas (recorde de jardas corridas por um QB no Super Bowl), marcando 1 TD. Sua escolha como MVP da partida foi óbvia.

Nas palavras de Dwight Hicks: "Bill Walsh tinha um gameplan lindo. E tinha um dos maiores QBs da história para orquestrá-lo".

6 comentários:

Anônimo disse...

Belo texto Gabriel, exceto pela parte em que o 49ers mete 23 a 0 no Bears! hahahahaha parabéns pelo blog

Gabriel Mury disse...

Obrigadão Guido. Ah, e vê pelo lado bom: no ano seguinte o bears ganhou o SB. Aliás, se eu não me engano essa defesa do Bears de 84 teve um número recorde de sacks.

Anônimo disse...

Legal mesmo esse texto, explicando bastante da tamporada dos Niners. E eu estou sempre entrando no seu blog para os novos capítulos da dinastia! rs

Gabriel Mury disse...

Valeu Guilherme, até segunda-feira sai o próximo capítulo, de 1988.

Bruno Macedo disse...

Legal esse texto,como disse o Guido,exceto pela derrota do Bears por 23 x 0 haha!no ano seguinte foi uma bela temporada do Bears, apenas perdendo para...o Dolphins de Dan Marino na temporada regular..aquele time de 85 do Bears era espetacular..

Bruno Macedo disse...

A Gabriel te dei uma pequena copiada, estou fazendo um resumo do Bears campeao de 85 do meu blog,ja postei a primeira parte,deem uma visitada la,valeu.